Características da madeira no tênis de mesa

Inicio o tópico já explicando que, quando eu escrevo “madeira” aqui, não estou falando da estrutura inteira onde a gente cola as borrachas. Essa analogia é muito adotada aqui no fórum porque não temos para isso (desconheço) no português uma expressão clara como blade, em inglês. O termo “raquete” também confunde e lâmina, mas é como eu vou chamar a parte que a gente segura. Madeira, neste tópico, é o tecido retirado do troco das árvores mesmo.

Bem, o fato é que as raquetes têm o corpo feito de madeira, propriamente dita, em sua totalidade ou quase, e a influência dela no esporte é gigante. Imagino que os tipos madeiras não sejam escolhidos à toa para compor e intercalar as camadas.

Quase sempre que a gente analisa uma raquete e avalia aqui, vê o material do qual ela é composta, mas não encontrei um tópico para trabalhar sobre esse ponto em si. Acho que é um assunto rico e que não pretende se esgotar em uma ou duas postagens, mas pode agregar um tanto ao nosso conhecimento.

Em primeiro lugar, é bom eu pontuar alguns tipos de madeiras que são usadas - algumas são mais comuns, outras um pouco menos:

  • Hinoki

  • Balsa

  • Limba

  • Ayous

  • Koto

  • Walnut

  • Rosewood

  • Ebony

  • Kiri

  • Samba

Além das madeiras, sei que muitas raquetes contém carbono, mas esse material iria complicar muito o assunto, pode ser estudando em outro tópico talvez. Dessas madeiras que eu citei, a gente tende a subdividir inicialmente em macias ou duras, mas nem todas as macias se comportam do mesmo jeito, como, por exemplo, o hinoki e a balsa.

Alguém aqui sabe explicar a diferença entre essas madeiras (pode acrescentar outras, com certeza)? Alguém tem preferência pelo uso de uma ou outra, e por quê?

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Eis um assunto interessante, mas as impressões podem se confundir com a raquete em si ao invés de cada tipo de lâmina da mesma. No entanto, é possível coletar algumas caraterísticas de cada madeira, principalmente daquelas que ficam na face externa da raquete.
Pela experiência que eu já tive com “algumas” raquetes, eu posso dizer:

  • Limba: Me parece que dá um bom controle e segura um pouco a bola, além de ser mais macia comparada com o koto, por exemplo.

  • Koto: Dispara mais a bola, além de ser um pouco mais dura que limba.

  • Ayous: Acho que eu nunca tive uma raquete com ayous na folha externa, na verdade nem sei se existe. Mas tive uma Stiga Clipper que tem limba externa, depois 5 folhas de ayous e mais uma de limba do outro lado. E a raquete deva um ótimo controle e velocidade satisfatória.

  • Hinoki: Junta a maciez da limba (na verdade é ainda mais macia) e efeito catapulta do koto. Parece o melhor de dois mundos, mas por alguma razão eu nunca gostei das minhas raquetes com folha externa de hinoki, por ex, Kong Linghui Special e Ovtcharov Carbospeed. Mas claro que raquete com folha única de hinoki é outra coisa. Na minha opinião esta é sua melhor utilização.

  • Kiri: É usado somente como camada central.

  • Balsa: Assim como o kiri, é usado como camada central, mas por ter menos massa geralmente a camada é mais grossa para gerar velocidade suficiente.

  • Mahogany: Tive apenas uma raquete com folha externa de mahogany, a Donic Burn Off e detestei. É duro demais, sem sensibilidade na batida, além de esfarelar facilmente ao trocar de borrachas constantemente.

  • Spruce: Eu desconhecia esta madeira, mas estou gostando muito da Donic Waldner World Champion 89, que tem 2 camadas de spruce, depois ZLC e núcleo de kiri.

No mais não me lembro de ter batido com raquetes com rosewood, eboby ou walnut.
Na minha preferência a melhor combinação é também a mais vendida: koto, ALC, limba e núcleo de kiri. Ou seja, a composição de Timo Boll ALC, Viscaria, Zhang Jike ALC, Lin Gaoyuan ALC, etc. O motivo é o equilíbrio perfeito entre velocidade, controle (subjetivo) e um toque que dá um feedback excelente na mão. Além disso, estes modelos citados possuem 5.7mm ou 5.8mm de espessura, o que otimiza o manuseio, por ex, a troca de FH p BH e vice-versa.

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Muito grato, @nakata !
Demorei para responder porque depois entrei de férias, mas quero continuar esse estudo. A Timo Boll ALC é realmente uma excelente lâmina. Sobre o hinoki, eu tenho uma Nittaku Septear que tem 7 camadas de hinoki. Acho ela ótima, pois consigo extrair potência na hora que eu preciso, mas nunca usei uma lâmina com o hinoki apenas na folha externa.
Eu comprei uma Sanwei H10, que dizia ser uma folha de hinoki (9 mm), mas na verdade é um american cypress. Eu testei e achei até boa a madeira, diferente. Sinto um controle legal e tem também uma velocidade razoável (diria OFF-), porém pesada. O hinoki verdadeiro me parece mais versátil e é mais leve também.

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Inclusive, na minha primeira postagem, eu citei o Ayous e o Samba, como se fossem duas coisas diferentes, mas, pelo que andei pesquisando, são nomes diferentes para a mesma madeira e, realmente, não são táo usadas como folhas externas e sim centrais.
Estava lendo um glossário que diz o seguinte:

  • Ayous: “uma madeira leve e flexível que é excelente para jogadas de contra-ataque perto da mesa; Ayous é útil tanto para manter alguma leveza no núcleo da lâmina, mas não para ser tão loucamente leve quanto a balsa; não é uma grande madeira de folheado superior.”

  • Kiri: “Um tipo de madeira leve, macia, mas torcionalmente rígida, usada principalmente como folheado de núcleo. (Quase todas as lâminas de tênis de mesa Butterfly fabricadas no Japão têm um núcleo Kiri.) Mais durável, mais pesado e mais duro que o Balsa. (Esta é uma das principais razões pelas quais as lâminas Butterfly são mais pesadas do que as lâminas de outros fabricantes.)”

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Vou compartilhar aqui o link do site que eu visitei para que outros possam entrar: TT Blades Database
Achei muito bom.

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Sem dúvida nenhuma, o kiso hinoki japonês é top de linha, é a madeira mais “high end” que existe, digamos assim.
Eu tive uma Darker Speed 90 clássica escolhida a dedo entre 3 lojas de Tokyo, a minha pesava 82g e era modelo FL.
Acabei vendendo depois que voltei p o Brasil, até hoje não sei por qual motivo…

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Boas
Parabéns pelo tópico este assunto é muito interessante para quem quer montar a sua raquete de origem.
Eu estou a tentar criar a minha raquete e
aproveito para por aqui algumas dúvidas que secalhar até são basicas, mas nas quais me interrogo, se me pudessem ajudar agradecia :grin:
Já li que algumas madeiras, tem lâminas na horizontal e na vertical, qual o sentido para isso, não podem todas as lâminas ser na horizontal ou vertical.?
E a minha outra dúvida é em relação a espessura das lâminas já li que à lâminas de 3mm, 2mm 0.6mm e até inferiror será que se miolo tiver uma lâminas com mais espessura é mas para ataque? Ou defesa
Agradecia a vossa ajuda :+1:

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A questão das lâminas posicionadas na horizontal e vertical é para dar rigidez ao conjunto e evitar trincas. Imagine uma parede de tijolos montada com tijolos exatamente um em cima do outro, sem que haja o posicionamento na metade do inferior. Vai ficar mais frágil, mesmo com o cimento atuando como cola.
Aliás, isso vale para quase tudo, o antagonismo cria uma estrutura mais sólida em debates, política, relacionamentos, opiniões, etc.

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Ok ok sim realmente faz muito sentido agora que penso nisso :sweat_smile: existe alguma sequência própria por exemplo: uma raquete com 5 lâminas, miolo horizontal, depois vertical e a lâminas exterior horizontal ou é indiferente?
E em relação ao acabamento da Madeira, depois de colar as lâminas aplica se algum produto ou fica logo pronta para colar as borrachas?

Todas as raquetes que eu vi até hoje têm a lâmina externa na vertical (segurando a raquete em pé).
Logo, a próxima lâmina é na horizontal, independente de quantas lâminas a raquete tem no total.

Sobre o acabamento na madeira eu respondi no outro tópico, o selante é indispensável para quem troca de borrachas constantemente como eu. Sem esta precaução a madeira começa a soltar fiapos quando se retira a borracha.
Existem vários materiais que podem atuar como selante, desde esmalte de unha, laca, resina epoxi e até verniz de madeira. Mas eu prefiro o selante da Joola que é próprio para isso.

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Faz tempo que eu não posto nada nesse tópico, mas, recentemente, tenho pesquisado sobre algumas madeiras que fogem um pouco dessas mais comuns (hinoki, ayous, kiri, etc.).

Aqui no Brasil, é difícil achar até a balsa com largura maior que 15 cm. Então, encontrei algumas soluções e quero saber se tem alguém com experiência, que conheça o uso e o comportamento delas no tênis de mesa. São:

  • Samaúma
  • Caixeta (ou Marupá)
  • Tília
  • Guapuruvu
  • Pinho
  • Cedro vermelho
  • Mogno
  • Imbuia
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Acho que não existe ninguém melhor do que o João Tenna da KWS pra responder essas perguntas…
Porém, acredito eu, que se não há nenhum protótipo ou modelo já no mercado com essas madeiras (tanto full quanto em composição - lâminas) já foi feito algum estudo sobre, e chegaram à alguma conclusão negativa…
São inúmeras configurações possíveis, e talvez até que válidas em algum momento, mas só o estudo, gasto e trabalho pra criar uma madeira “de mercado” com madeiras que nunca foram testadas em massa e sem “tecnologia que favoreça o propósito de existerem tantas combinações de camadas possíveis no TM” e não ser bem quista pelo público, não vale a pena…
Se nenhuma marca de grande nome não desenvolveu, só resta a KWS criar pra você… hahaha

Oi, Guilherme
Muitas dessas são usadas por marcas internacionais, por exemplo a Tília (Butterfly), o Pinho (Yasaka e Donic), Cedro Vermelho (Animus) e o Mogno (Tibhar).
As outras não sei, mas são interessantes. Fiz essa lista por isso. Depois, vi até que o Nakata comentou sobre o Mogno só que com outro nome: Mahogany.

Compartilho aqui alguns estudos que eu fiz a respeito dessas derradeiras madeiras que eu listei. Infelizmente, não consegui tirar conclusão de todas.

  • Samaúma (ou Sumaúma): não é uma madeira popular comercialmente para raquetes de tênis de mesa, mas depois do comentário do @GUILHERME, entrei no canal e vi uma postagem da KWS usando essa madeira numa raquete customizada. A maioria dessas madeiras que eu listei vieram de um estudo pessoal analisando densidade, resistência à compressão, módulo de elasticidade, etc. e acho interessante quando eu encontro uma madeira possível aplicar numa raquete e vejo, coincidentemente, outras pessoas usando esse material, ainda que não seja de grandes marcas. A madeira da Samaúma, além de ser usada para compensados de boa qualidade, tem muitas características próximas de uma Ayous, mas o importante é testar, pois uma coisa é na teoria, outra é na prática, e a fabricação de raquete envolve muita coisa (prensa, cola, etc.).
  • Tília (Basswood): Bem utilizada por diversas marcas (Butterfly, Donic, Stiga, Darker, Friendship, etc.) há muitos anos. A vantagem dela é o alto controle de bola e o baixo custo, sendo usada em núcleo, camada intermediária e até em folha externa.
  • Pinho: A Yasaka fez uma raquete (Batle Balsa) que usa o pinho para dar velocidade junto com a balsa. Só que, olhando nas fotos, dá para ver que o pinho deles não é um qualquer. A madeira do Pinho é muito influenciada pelo lugar onde ele foi plantado (assim como todas as outras) e acho que o corte também, a região da árvore de onde foi extraída a madeira. Além disso, existem “trocentas” espécies chamadas de pinho, o que torna mais complicado ainda avaliar, mas é uma madeira útil.
  • Cedro vermelho: É usado mais em núcleo ou folha intermediária e tem algumas propriedades físicas que chegam até a lembrar um Ayous. O problema é que esse cedro não é o mesmo do Brasil, é um cedro canadense (Thuya Plicata), que é bem mais leve.
  • Mogno (Mahogany): um fabricante português fez uma consideração bem interessante: “Khaya, ou Mogno Africano, é uma boa solução para quem quer algo entre Limba e Koto em termos de sensibilidade. Só não é muito popular em folheados comerciais porque a quantidade de poros naturais torna a madeira difícil de trabalhar.” O @Nakata descreveu a experiência dele com essa madeira que bate bem com esse comentário. Dei uma olhada na Donic Burn e, na fabricação, fizeram um trabalho de aquecimento com a madeira para endurece-la mais ainda. Talvez, por isso tenha tido essa sensação (muito dura). Porém, eu tenho uma lâmina (Donic Alligator Combi) que tem um lado ALL+ com a Mahogany (camada intermediária) entre a Balsa e a Limba, que não tem essa sensação dura.

Essas foram as madeiras que eu consegui obter informações um pouco mais completas.

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