Reflexões sobre o RPB

Na minha volta ao tênis de mesa - até aqui mais planejada do que executada - fiquei sabendo que o RPB (Reverse Penhold Backhand) revolucionou o estilo penhold.

Achei isso bem engraçado, porque eu mesmo, aos 11 anos de idade, usava uma raquete clássica no estilo penhold e costumava dar golpes com o “outro” lado da raquete. Era um uso ocasional, e eu não passava de um amador, mas o RPB seguramente fazia parte do meu repertório. Quando se apresentava uma ocasião favorável, eu usava o “outro lado”, e quando eu acertava o golpe, o adversário era geralmente surpreendido.

Nessa época fui vice-campeão de um campeonato amador infantil (de 11 a 14 anos ou algo assim). Meu “vice-título” não significava nada, mas como eu tinha apenas 11 anos e o (merecido) campeão tinha 14, meu pai se animou e me deu uma Butterfly caneta chinesa de presente. Aliás, ele se animou tanto que me levou ao Fluminense para fazer um teste… no qual eu não tinha a menor chance, pois além de estar usando um equipamento que ainda não conhecia, era apenas um amador e havia aprendido tudo o que sabia sozinho. Mas depois eu compreendi a pressa de meu pai; ele sabia que estava doente, e veio a falecer alguns meses depois.

Por ironia, foi justamente essa Butterfly que “cortou as asas” do meu RPB. Sendo uma caneta chinesa, o “outro lado” (BH) era de madeira, e já não servia para grande coisa. Mas era uma raquete muito mais leve e melhor do que a anterior (os mais velhos aqui já devem estar adivinhando qual era essa raquete anterior), e com ou sem “RPB”, que nem tinha na época esse nome pomposo (aliás, não tinha nome nenhum), o que eu queria era jogar.

Muito bem, eu tive que contar essa história porque ela introduz o problema que eu quero colocar para vocês. Não sou tolo a ponto de acreditar que eu tenha sido “o gênio que inventou o RPB”. Em 1972 eu era apenas um garoto de 11 anos, e um garoto inventivo como os garotos dessa idade costumam ser, e por acaso estava usando uma raquete clássica no estilo caneta. Só isso. E o problema é justamente esse: centenas (ou até milhares) de pessoas devem ter “inventado” o RPB ao longo do tempo, e muitas delas, provavelmente, o fizeram muito antes do que eu. Mas se é assim, por que esse golpe tão óbvio demorou tanto a ser inventado “oficialmente”?

O que vocês acham? É apenas uma questão de ele ter sido usado sistematicamente (e muito bem executado) nos níveis mais altos do TM, chamando a atenção de todos?

Eu diria que todos nós inventamos o tempo todo, talvez sem nem mesmo percebermos. O problema é que a invenção só se torna de fato invenção quando passa a ser imitada

E afinal, quem inventou oficialmente o RPB? Quem “chegou primeiro” no escritório de patentes? Tenho pesquisado o tema e não encontrei ainda uma resposta conclusiva.

A questão de desenvolver um novo fundamento técnico ou estilo passa por várias etapas.

Um indivíduo que apresente nova solução/evolução para tradicionais deficiências, passa a ser estudado para avaliar a efetividade do fundamento e sua transmisão para novos atletas.

Há certamente laboratório na China para materiais e técnicas, coisa impensável no Brasil aonde apenas quem já apresenta desempenho regular é potencializado.

A escola Européia nos anos 80, mais precisamente a Suécia, defendia a inovação pelo atleta, praticante ou jogador, que individualmente tinha que desenvolver o que fosse preciso para seu crescimento técnico. Aparentemente esta inovação de escola técnica aberta funcionou apenas com Waldner e Persson, foi pontual em universo pequeno de elementos habilidosos, não houve continuidade para novas gerações.

Já os sistemas orientais, Japão, China e Coréia, sempre prezaram a execução técnica correta, não há lugar para experimentar e introduzir alterações no sistema tradicional…

Nos anos 80 eu ganhei uma caneta Rotor, que teria outra finalidade que o RPB, mas naturalmente comecei a usar o movimento, este fundamento na época era visto como novidade e acredito que desde os anos 30 existiram atletas chineses que utilizavam técnicas menos ortodoxas, como caneta defensivo de pino longo, back hand finalizando em 70% das jogadas, empunhaduras clássicas com pegadas diferentes da shakehand; mas estas diferenças eram exceção técnica e mérito do indivíduo.

Muito bacana e enriquecedora a sua resposta, hinoki.

O que você disse sobre os sistemas orientais me fez lembrar do teatro japonês, onde a técnica (a repetição exata do gesto) é uma questão espiritual. Existem escritos orientais relativos ao tênis de mesa? Gostaria muito de conhecê-los.