ITTF 2015 World Tour Grand Finals

Algum comentário a respeito do “ITTF World Tour Grand” ocorrido em Portugal neste mês de dezembro? Novamente, Ma Long sagrou-se campeão.

Augusto, primeiramente boa tarde, e é um prazer comentar a respeito desse assunto.

Sobre o torneio, especialmente na chave masculina, Ma Long ganhou porque está no seu primor técnico. Porém, Fan Zhedong com certeza dominará o cenário mundial por uns 5 anos, no mínimo, caso não ocorram lesões etc (esse menino tem apenas 18 anos e perdeu de 4x3 do Ma Long, que tem 27 anos, na final). Isso é excelente para o tênis de mesa chinês. Para você ter idéia, acredito eu que eles só não venceram chave de duplas porque não mandaram nenhuma dupla pra competição. Isso não tem como mudar: os chineses ganham porque tem base, estrutura, massificaram o esporte e treinam com muita qualidade.

Porém, no mesmo ano de Campeonato Mundial, e por uma Olimpíada a vir ano que vem, me bate uma certa tristeza. Primeiro pois dos 4 semifinalistas masculinos, DE NOVO, 4 chineses (igual ao Campeonato Mundial nesse ano e ao de 2013). Segundo ao ver ídolos europeus e não-chineses como Ovtcharov, Marcos Freitas e outros, não jogando absolutamente nada contra os chineses (o melhor foi Samsonov). E o pior, jogando na base do volume de jogo, sem tática nenhuma. Eu acredito que nunca na história do tênis de mesa a distância entre China e Resto do Mundo é tão grande quanto agora. O esporte corre um sério risco de ficar completamente na mão dos chineses, e perder drasticamente sua popularidade(isso é título de reportagens até na China).

Eu falei isso aqui uma vez e meio que discordaram, mas volto a repetir: o mundo todo joga com os chineses de modo errado. Não sou eu quem irá mudar isso na história, até porque tenho 23 anos e sou um atleta amador. Uma coisa é fato: os chineses tem muita base técnica e muita intensidade em suas bolas, não adianta tentar atacar mais que eles ou até mesmo jogar de “peito aberto”. O resultado tá aí, foi porrada na certa. E ao que tudo indica tende a piorar. Waldner foi o que ele foi porque ele variava seu jogo, e, acima de tudo, ESTUDAVA o Tênis de Mesa. Isso que falta ao Resto do Mundo (inclusive Europa). Nós não estudamos o esporte, nós apenas vamos no Potoc-Potoc na mesa, e isso não leva a nada.

Se pegarmos depois de 2000, aconteceu uma “pasteurização” do tênis de mesa, ou melhor, robotização, na minha visão. Nós sempre queremos deixar o fundamento cada vez mais limpo, livre de individualidades. A tendência é produzir jogadores clássicos e driveiros (como Timo Boll). Basta ver as novas gerações: Jun Mizutani, Marcos Freitas, João Geraldo, Ovtcharov, todos muito parecidos no jogo. Enquanto isso, a China produz caneteiros (por sinal, único país que produz caneteiros em larga escala), jogadores de contra-ataque (como próprio Fan Zhedong) e muitos outros. O resultado é óbvio, é cada vez mais raro termos mais jogadores que falamos: “Puxa, que bola linda esse cara tem, só ele tem essa bola”, como um Kim Taek Soo, um Liu Guoliang. Esse tempo, pra mim não voltará mais. Maioria dos atletas não presta atenção nos detalhes mínimos: ter um bom saque, ter uma boa recepção, etc, preferem treinar drive em cima de drive. Pra mim, a revolução virá quando MASSIFICARMOS o esporte.

O brasileiro especialmente, tem uma mentalidade muito elitista quando a qualquer esporte. Todo treinador no Brasil que queira estudar esporte (que não seja futebol), tem uma visão muito romântica, pois é impossível fazer isso no nosso país. Pra montar um centro de treinamento bem simples já é uma burocracia danada. Infelizmente, é muito mais fácil juntarmos uma meia dúzia de pessoas num estrelismo de não dar espaço pra ninguém e chamar aquilo de alto rendimento. Quando nós vemos um multiplicador do esporte, um cara apaixonado, nós não damos atenção, pelo contrário, preferimos juntar no grupinho e ficar com estrelismo. Falo isso, porque eu passei por isso quando comecei a jogar, e encontrei um amigo meu, Gustavo, que segurou bola pra mim por 4 meses até eu chegar num nível que déssemos pra crescer junto. Faço isso hoje em dia com todo mundo que encontro. Se todos mundo fizesse isso, com certeza massificaríamos esporte.

Falta muito pra melhorar tênis de mesa no mundo todo, exceto a China, pra variar. Novamente, mais um gol da Alemanha.

O Grand Finals é infelizmente um torneio bem curto, e isso acaba fazendo com que alguns confrontos interessantes sejam adiantados ou até evitados. Mas mesmo assim, a presença dos principais atletas do mundo deu ao torneio a importância que ele foi criado para ter, o que não aconteceu por muitas vezes nos últimos anos. E houve, de fato, alguns ótimos jogos. Zhang Jike X Lee Sangsu, Yuya Oshima X Jung Youngsik e Feng Tianwei X Zhu Yuling me chamaram bastante atenção.

O título do Ma Long é mais do que merecido, e coroa um ótimo ano para ele. Me lembro de muitos comentários no Brasil e no mundo de que o Ma Long não tem condições psicológicas de ser um grande campeão: está aí a resposta. E isto tudo me agradou muito, devo admitir.

… entre outros.

E com todo respeito, eu tb discordo. Se o mundo joga com os chineses de modo certo, eu não sei, mas muito menos teria a pretensão de dizer que o fazem de maneira equivocada. E mais do que isso: exatamente com base em que evidências vc diz que “não estudamos o tênis de mesa”? Concordo que há elitismo (embora não sempre e exatamente aconteça na elite de fato), concordo que os obstáculos para implementar qualquer trabalho é enorme, etc. Mas talvez seja necessário olhar de uma outra forma para o passado, não para quem está jogando mas como tudo o que ele fez / fazia antes de chegar aí.

Fato é que a China é o único país que tem planejamento estratégico para o tênis de mesa, e sempre foi assim. Porém, hoje existem trabalhos verdadeiramente profissionais em outras partes do mundo, e estruturas mais abertas e descentralizadas. Nunca se trocou tanta experiência ao longo do globo, com muitos atletas nascidos em um país indo treinar em outro e sendo contratado para jogar em um terceiro. Exemplo disso são as nossas próprias seleções, e a evolução delas é inquestionável (ou não?). Muitos países que tinham pouca ou nenhuma expressão passam a incomodar as potências tradicionais, como é o caso de Portugal. Isso garante que alguém vai ganhar da China? Não, e pode ser que isso nunca aconteça. Isso pq a China não vai ficar olhando todo mundo se mexer. Alto nível, como vc sabe, significa o confronto de um projeto profissional contra outro, muito mais do que um jogo. Vc tem razão em muita coisa do que diz sobre a cultura do brasileiro sobre o esporte, mas o pior dela é acreditar que apenas o primeiro lugar representa sucesso.

O tênis de mesa pode acabar tendo se tornado um esporte onde os caras de camisa vermelha vencem, mas se for mesmo assim, que escolha temos? Amá-lo ou deixá-lo. Se “naquele tempo é que era bom”, cabe a cada um, mas posso dizer (mais uma vez) que eu amo este esporte cada dia mais, e prefiro que ele seja ameaçado pela excelência do que pela mediocridade.

E embora este não seja o tema central do tópico, agradeço por trazer este tipo de assunto a tona, que traz algo novo e acredito mais construtivo à discussão. De qualquer forma, sendo moderador só um pouquinho, vamos pelo menos tentar não esquecer o assunto central hahahhahahahah.

Abraços!!!

Alcir, é legal trazer essas discussões pra cá, e obrigado mesmo por responder. Antes de tudo, não pretendo bater de frente com ninguém, etc. Talvez o pessoal possa estar pensando isso aqui, e desculpe se pareci ofensivo em algum momento. E como comecei a escrever agora no fórum desculpa fugir do assunto, mas é algo que gosto de discutir.

Digo isso pois a China estuda o tênis de mesa teoricamente, com universidade específicas para formação de técnicos, técnicos esses inclusive mais novos do que nós em termos de idade (vide reportagem do Jornal Nacional). No resto do mundo o tênis de mesa é empírico demais, não que seja ruim, mas precisamos de teoria também. Qual a física por trás de um saque? Qual percentual de bolas cruzadas que voltam paralelas? Os atletas da China são os atletas do futuro. Eles foram planejados há cerca de 20 anos e representarão uma tendência futura do tênis de mesa. Esse resultado veio de estudos teóricos. Isso que sinto muita falta.

Não é desmerecer outros trabalhos no resto do mundo nem aqui no Brasil, até porque tem-se a WSA (Werner Schlager Academy), onde Freitas treina lá inclusive, e é um centro de excelência. Nossa seleção evoluiu demais e isso é nítido. Porém, uma coisa é certa: a distância pra China hoje nunca esteve tão elevada. E você que assiste bem mais jogos que eu, sabe que os atletas jogam cada vez mais parecidos. Está ficando cada vez mais difícil diferenciar jogadores, basta comparar Gatien com Waldner (geração passada) e Freitas com Timo Boll (gerações atuais). De modo algum primeiro lugar interessa, até porque é muito difícil retirar isso da China. Porém mais vitórias seriam legais. Basta ver que o último não chinês a vencer um WTTC foi Schlager em 2003 (porque ele estava iluminado naquele torneio kkkkk). O que vejo dos jogos e critico é a robotização do tênis de mesa como um todo. Atualmente a maioria dos jogos são ganhos por volume de jogo, e não por tática (percentualmente falando). Pessoalmente, eu vejo muita tática apenas em chinês contra chinês.

E quanto ao brasileiro, sim, nós temos costume de elitizar esporte, qualquer que seja. Só contar quantas vezes nós, mesatenistas amadores, seguramos bola pra um iniciante? Ou quantas vezes não excluíram nós de determinado grupo porque somos “fracos”? Os amadores que massificam o esporte. Com o tênis de mesa foi assim, e com outros esporte também, como basquete nos EUA, hóquei no Canadá, por exemplo. Enquanto nós não massificarmos, teremos problemas, isso em qualquer lugar do mundo e em qualquer esporte.

Novamente desculpa fugir do assunto e parecer ofensivo. Apenas para responder mesmo.

De forma alguma vc foi ofensivo! E pelo menos da minha parte, vc não está batendo de frente, pois sou um amador como vc. Mas conhecendo um pouco da história, tendo presenciado algumas diferentes gerações de atletas e formas de trabalho, formo uma opinião um pouco diferente, não mais e nem menos valiosa. E como disse desde o começo, respeito sua perspectiva.

Sim, a China é a única que estuda o esporte teoricamente, etc. E provavelmente, fora casos esporádicos e movidos mais pela paixão (na Europa e até alguns colegas aqui no Brasil), vai continuar sendo assim. Isso demanda recursos, estrutura, corpo acadêmico, e sobretudo, mercado. Ninguém vai gastar tanto recurso para algo direcionado a um público restrito, o que não é o caso na China. Enquanto isso, para vc fazer ideia, a partir do ano que vem, a Adidas encerra suas atividades do mercado do tênis de mesa. Ou seja, fora da China, acaba sendo mais viável, quando muito, investir em centros de treinamento visando um retorno mais rápido, com atletas já no circuito ou aspirantes. Não acho que temos que nos contentar com isso e ponto final, mas tb é preciso entender as nossas limitações para traçar um caminho. Vc fala sobre massificação, e eu entendo sua preocupação, mas te pergunto: o que massificou o futebol no Brasil? E o basquete nos EUA? E o baseball em Cuba? E o hóquei no Canadá? Este é um processo natural, e é pretensioso falar de realizar trabalhos para isso, pq estamos falando de CULTURA. Eu acredito sim em aumentar popularidade e número de praticantes, aumentar o nível médio e tirar proveito deste volume, e isso é possível realizar. Mas sem ilusões, pois mesmo o vôlei, que é de excelência no Brasil, não é nem de longe massificado, nem o tênis de mesa na Alemanha ou França.

Quanto a atitudes como a que vc comenta de ajudar os iniciantes, etc., acredito nisso, mas atletas de alto nível precisam de dedicação exclusiva a elevar seu nível, porque isso demanda MUITO tempo e energia. Realizá-lo muito esporadicamente como forma de incentivo / valorização é valido, não mais do que isso. Mas concordo com vc que, no nível mediano, esta arrogância em se considerar muito valioso para isso acontece muito, e era isso que eu citava anteriormente quando eu falava que nem todos se julgam “elite” exatamente o são, o que cria grupos e afasta potenciais bons atletas.

Sobre tática, ninguém chega a este nível por “volume de jogo”. E embora a tática sempre exista (condição básica), nem sempre aplicá-la necessariamente vai implicar em sucesso, e isso tb faz dos chineses excelentes: identificar, modificar e anular. E pode ser que minha perspectiva seja absurda, mas se realmente estamos bem distantes da China, acho que estamos dando passos concretos com trabalhos mais sérios para diminuí-la, talvez pela primeira vez.

E quando eu falei sobre fugir do assunto, não se preocupe, estava sendo irônico comigo mesmo hahahahahahahaha.

Abraços!!!