"IRANILDO ESPÍNDOLA: O REI DO BALÃO "

“IRANILDO ESPÍNDOLA: O REI DO BALÃO”
Notícia publicada no site da CBTM http://www.cbtm.org.br/ em 17/08 18:05

"O mesa-tenista Iranildo Espindola, apelidado pelos atletas de rei do balão [balão é um efeito colocado na bolinha que a faz voltar mais alta para o adversário] é bem acostumado a vitórias. Há quase seis anos, em sua primeira competição, já foi ouro. Desde então não quis parar mais. O noivo de Silvana Fernandes já representou o país na Paraolimpíada de Atenas em 2004 e quer mais. Bi-campeão Parapan-americano da classe dois*, acaba de ser classificado para o mundial na Suíça em 2006.

Você possui uma tetraplegia devido a uma lesão medular. O que aconteceu?
Em 20 março de 1995 fui pular uma onda na praia e bati a cabeça num banco de areia. Tive uma lesão nível C6.

Como o esporte entrou em sua vida?
Comecei no Sarah Brasília como fisioterapia, uma forma de reabilitação e tentativa de melhora de movimentos. O pessoal me falou de competições de tênis de mesa adaptado, que existia Paraolimpíada, e me interessei. Em 99 participei de minha primeira competição em Goiânia. Fiquei em primeiro lugar, foi um estímulo e tanto.

Por que escolheu o tênis de mesa?
Minha movimentação era pouca e ainda é (risos). Até cheguei a tentar basquete no Sarah, mas tênis de mesa foi o esporte que me adaptei melhor. Vi que com algumas adaptações dava [Iranildo usa uma luva que amarra sua mão, sem força suficiente, à raquete].

Como você avalia a evolução do tênis de mesa desde seu inicio no esporte?
Antigamente tinha mais dificuldade. O CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) era recém criado e o tênis de mesa não era muito conhecido. Tinha poucos atletas e resultados. Hoje os atletas do Brasil se sobressaem na América do Sul e Norte. As competições estão bem mais organizadas. Antes não ficávamos nem em hotel só em alojamentos, sem muitas adaptações. Agora há preocupação com acesso. Ainda falta mais incentivo, mas estou feliz com o programa Bolsa Atleta do Governo [Iranildo foi contemplado com a Bolsa Atleta que oferece salário para atletas de ponta]. Agora posso realmente me dedicar somente ao tênis de mesa.

Qual foi a sua maior realização no esporte?
Quando comecei pensava: “vou ver até onde chego”. E cheguei a uma Paraolimpíada. Eu via as Olimpíadas na TV e achava que era quase impossível. De repente, me vi prestes a participar de uma Paraolimpíada e aconteceu. Com certeza foi minha maior realização no esporte.

Como você avalia sua técnica em relação aos atletas adversários de sua classe*?
Tento fazer o melhor possível. Tenho que ser inteligente em relação a eles. Observei com meu técnico como eles jogavam e aperfeiçoamos minha técnica. Sei meus limites, sei qual a deficiência deles. Tento dificultar ao máximo que eles devolvam a bola para mim. Até agora está dando certo.

Para você, qual país apresenta os melhores atletas em nível técnico?
Na Europa em geral encontramos os melhores atletas porque eles têm mais infra-estrutura. A França é fortíssima. Tem atletas em todas as classes, todos fortes, por isso é o país mais completo.

Existe um antes e depois do tênis de mesa?
Com certeza. Antes do tênis de mesa eu estava sem nada para fazer. Ficava me lamentando, preocupado com o que ia acontecer. O tênis de mesa preencheu meu tempo e trouxe a preocupação com as competições. Tenho amigos que estavam na mesma situação que eu e não seguiram o mesmo caminho. Hoje são mais amargos, com poucos amigos, vivem meio enclausurados. O esporte é importante para reabilitar. Depois dele me senti capaz novamente. Senti que posso. Conheci pessoas diferentes, países diferentes e viajei pelo Brasil. Não teria tido essas oportunidades se não fosse o tênis de mesa.

Sentiu dificuldades nas primeiras viagens em relação a sua deficiência?
Quando ia viajar a preocupação era quem ia me ajudar. Essa necessidade me fez fazer muita coisa sozinho, como me trocar, tomar banho e o cateterismo. Só aprendi a fazer sozinho graças ao tênis de mesa. Até isso devo ao esporte. Talvez estivesse precisando de ajuda até hoje se não fosse ele.

Quais são seus próximos projetos no tênis de mesa?
Quero continuar jogando. Agora com mais entusiasmo. Aumentar meu ritmo, fazer intercâmbios para representar melhor o país. Pretendo me classificar de novo para a Paraolimpíada de Pequim em 2008. Desta vez, não só representar, quero competir por medalha.

* No tênis de mesa paraolímpico os atletas são divididos em 10 classes de acordo com sua mobilidade física. Quanto menor o numero, menos mobilidade o atleta tem. Da classe 1 a 5 jogam os atletas cadeirantes. Da classe 6 a 10, os atletas que andam. Existe ainda a classe 11 para portadores de deficiência mental.

Por Carla Limp"

Depoimentos como esse enaltecem o nosso esporte e nos dão uma verdadeira aula de como acreditar na vida, não desistir nunca e saber que há um plano para cada um de nós, mesmo quando situações drásticas acontecem, há de se ver o lado positivo e a lição que podemos aprender com tal.

Magnífica resposta “Bakun”! Ao reproduzir esta notícia minha intenção era despertar nos usuários deste fórum, o sentimento de solidariedade e ao mesmo tempo de incentivo a Iranildo que mesmo diante de uma adversidade na sua vida soube suplantá-la com galhardia, coragem e bravura, servindo de exemplo a todos aqueles que esmorecem nos pequenos momentos desfavoráveis da vida.