Entrevista com Hugo Hoyama

[color=darkblue][size=4]Obsessão pela marca inédita.
Hugo Hoyama quer superar Gustavo Borges no Pan do Rio [/size][/color]

Hugo Hoyama divide com o ex-nadador Gustavo Borges o recorde brasileiro de medalhas de ouro em Pan-Americanos. No Pan do Rio, o mesa-tenista terá a chance de conquistar mais uma e se tornar o detentor solitário da marca. Em entrevista à reporter Lydia Gismondi, Hoyama não esconde certa obsessão em superar Gustavo e fala sobre a sua trajetória vitoriosa no esporte.

GLOBOESPORTE.COM : Você e o ex-nadador Gustavo Borges dividem o recorde de maior número de medalhas de ouro em Pan, oito para cada. Ultrapassar o Gustavo já virou uma espécie de obsessão? O quanto isso é importante para você?

Hugo Hoyama: É uma obsessão, mas também é uma brincadeira. Vou fazer de tudo para ultrapassar o Gustavo, mas também não quero ficar me preocupando com isso na hora da competição. Quero me concentrar para ir bem e, conseqüentemente, conquistar o recorde.

GLOBOESPORTE.COM : A busca pelo recorde solitário já virou até gozação entre vocês dois, né?

Hugo Hoyama: É verdade. Em 2003, quando conquistei o meu oitavo ouro e passei ele, o Gustavo me falou: “Ô japonês filho da mãe, agora vou ter que conseguir mais uma também”. A gente brinca muito com essa história.

GLOBOESPORTE.COM : Das suas 12 medalhas em Pan-Americanos, tem alguma especial?

Hugo Hoyama: Todas são importantes, mas a mais significativa foi a de 91, em Havana. Foi a primeira medalha de ouro que o Brasil conquistou na categoria individual. É claro que é legal também conquistar prêmios por dupla ou equipe, mas não é a mesma sensação de conquistar uma medalha sozinho. Não é questão de ser egoísta, mas é legal você subir no pódio e mostrar que batalhou e conseguiu.

GLOBOESPORTE.COM : Você se lembra do que sentiu no seu primeiro Pan? Era diferente do que sente agora, no seu último?

Hugo Hoyama: Para falar a verdade, todo campeonato que eu participo, fico nervoso nos primeiros jogos. Nesse de agora, tenho certeza que vou sentir um friozinho na barriga, talvez até mais do que o normal, por estar jogando aqui. Espero que nada atrapalhe para que eu conquiste o melhor resultado possível.

GLOBOESPORTE.COM : Qual será o sabor de conquistar o ouro em um Pan no Brasil?

Hugo Hoyama:
Com certeza vai ser muito diferente. Vai ter aquele carinho do torcedor. A motivação é outra, né? Não existe torcida igual a do Brasil.

GLOBOESPORTE.COM : Como conheceu o tênis de mesa?

Hugo Hoyama: Começou como uma brincadeira. O verdadeiro ping-pong porque nem sabia o que era realmente tênis de mesa. Eu brincava com meus amigos na escola japonesa, que estudava. Mas um desses meus amigos treinava em um clube e me chamou para jogar lá. Com sete anos, eu ia treinar uma ou duas vezes por semana e, com 8 anos, comecei a treinar diariamente.

GLOBOESPORTE.COM : E como o seu talento para o esporte foi descoberto?

Hugo Hoyama: O técnico do clube viu logo talento em mim, principalmente pelo fato de eu ser canhoto. Também porque eu era muito inquieto, ativo e o técnico gostou muito disso.

GLOBOESPORTE.COM :
Faz tanta diferença assim o fato do mesa-tenista ser canhoto?

Hugo Hoyama: Com certeza. O efeito que o canhoto coloca na bola é diferente. O ângulo também é diferente e os ataques são inversos. A principal vantagem do canhoto é na hora do saque. Complica muito para o adversário. Eu mesmo não gosto muito de jogar contra canhotos. É sempre mais complicado.

GLOBOESPORTE.COM : O seu técnico, Maurício Kobayashi, é o mesmo desde o início. Como fica essa relação depois de 30 anos juntos?

Hugo Hoyama: Temos uma relação de pai e filho. Ele me conhece muito bem, então fica mais fácil encontrar os meus erros e onde posso melhorá-los. Além disso, por temos uma intimidade muito grande, temos facilidade para falar abertamente as coisas um para o outro. Mas também tive alguns outros técnicos quando morei fora do Brasil.

GLOBOESPORTE.COM : Apesar das vantagens dessa relação afetiva com o seu treinador, você sente falta de um técnico com mais experiências?

Hugo Hoyama: Ele é muito bom na parte técnica, mas acho que na parte tática ele não acompanhou tanto a evolução. Ele já está há muito tempo sem viajar, sem fazer intercâmbio. Ele tem seus defeitos e eu tenho os meus, mas é melhor a gente ter esse tipo de relação com alguém que a gente conhece bem.

GLOBOESPORTE.COM : Você acha que terá um sucessor no esporte?

Hugo Hoyama: Não sei. Hoje tem mais atetas do mesmo nível do que antes. Antes era o Cláudio Kano e depois fui eu. Agora tem outras opções como o Thiago, o Tsuboi e o Cazuo. A briga vai ser entre eles. Acho difícil ter um destaque só e isso é muito bom para o Brasil. Em vez de ter um grande atleta, teremos três. Mas conquistar todos os títulos que conquistei até hoje acho difícil acontecer de novo.

GLOBOESPORTE.COM : O que podemos esperar dessa nova geração?

Hugo Hoyama: Eu acredito que, no mínimo, podemos esperar por bons resultados aqui na América. Mas em termos de mundial, acho muito complicado esperar bons resultados. Só o Thiago é mais experiente nesse aspecto. Chances de criar surpresas eles têm, mas vai depender muito de como vão conduzir suas carreiras a partir de agora.

GLOBOESPORTE.COM : Você e o Cláudio Kano eram os dois grandes nomes do esporte na década de 90. A morte do Cláudio em 96 acabou fazendo com que a pressão fosse passada para você?

Hugo Hoyama: Eu não senti essa pressão. Quando ele morreu, coloquei na minha cabeça que batalharia por nós dois. Ele foi um cara que se dedicou muito pelo crescimento do esporte no Brasil. Mas pressão mesmo, acho que nunca tive não. Sempre me preocupei em fazer minha parte e deixar de lado esse tipo de pressão.

GLOBOESPORTE.COM : Você continua mantendo uma postura dura em relação aos chineses que se naturalizam latino-americanos para jogar Olimpíadas?

Hugo Hoyama: Procuro não me incomodar mais com isso. Se eu ficar me preocupando com isso, acabo perdendo o foco nos treinamentos. Eses chineses que jogam naturalizados, só jogam aqui porque eles não são bons o suficientes para jogar lá. Então, não podemos temê-los. Meu erro em 2003 foi justamente esse. Eu fiquei preocupado com isso, perdi o foco no jogo e fui derrotado.

GLOBOESPORTE.COM : Como está o intercâmbio do Brasil hoje? O Thiago está na França. Você também morou fora por bastante tempo. É realmente um investimento muito importante?

Hugo Hoyama: Hoje, Cazuo, Tsuboi e Thiago estão morando fora. E eu acho que temos mais jogadores bons hoje em dia justamente por causa desse intercâmbio. Os melhores resultados que conquistei foram na época que estava morando fora.

GLOBOESPORTE.COM : Quem é o seu grande ídolo?

Hugo Hoyama: No tênis de mesa, nunca tive. Claro que tem pessoas que eu admiro, como o Cláudio, mas ídolo mesmo não. Eu sou fã de pessoas de outro esporte, como o Zico e o goleiro Marcos.

GLOBOESPORTE.COM : Você se considera realizado ou ainda falta alguma conquista?

Hugo Hoyama: Acho que não falta mais nada. O meu principal retorno foi ter dado muitas alegrias para os meus pais. Isso valeu por tudo e acho que não há nada mais importante que isso.

GLOBOESPORTE.COM : Mas se você pudesse pedir só mais uma coisa. O que pediria?

Hugo Hoyama: Uma medalha olímpica para encerrar a carreira, é claro, pois é a única coisa que não conquistei. Mas sei muito bem o quanto é difícil isso. Fora isso, não desejo mais nada. Agora, só quero ver essa galerinha nova crescendo e evoluíndo no esporte.

GLOBOESPORTE.COM : Você pretende trabalhar com o tênis de mesa mesmo depois de encerrar a carreira como atleta?

Hugo Hoyama: Já estou preparando um projeto para passar as minhas experiâncias para os mais novos e até técnicos. Já estou começando a fazer contatos para dar ínicio a isso. Mas não quero ser técnico . Não sei se vou ter paciência para logo depois de encerrar a carreira virar treinador. Acho que isso é uma coisa mais para frente.

GLOBOESPORTE.COM : Que recado você mandaria para a torcida brasileira no Pan? E para os seus adversários?

Hugo Hoyama: Queria pedir que a torcida nos incentivasse em todos os momentos. Não só nos momentos bons, mas nos ruins também. Não deixem de mandar energia positiva para gente. Para meus adversários, aviso para tomarem cuidado, pois as energias estarão contrárias a eles. Se cuidem!

Extraído do site Globo.com