Como a bola de plástico alterou o jogo?

Olá pessoal, tenho conversando e lido bastante a respeito das mudanças causadas pela utilização das bolas de plástico, em especial em relação às mudanças de estratégia de jogo e adequações de estilo.
Parei de jogar em meados de 2013 e voltei no final de 2016, então não passei por um período de transição, pois ao voltar tive que reaprender muita coisa e já com as bolas de plástico. Mas hoje, cerca de 10 meses após ter retornado, consegui avaliar um pouco as mudanças em relação ao meu próprio jogo.

Venho utilizando principalmente a Nittaku 40+ 3***, a DHS D40+, a Tibhar 3 e a Xushaofa 3***, todas elas apresentam algumas diferenças entre si, principalmente as duas primeiras em relação às últimas.

Meu jogo foi sempre baseado em bloqueios e contra-ataques rápidos, muitas trocas de bola e eventualmente terceiras bolas rápidas para tentar surpreender o adversário, valendo-me de movimentação rápida na mesa.
Com as bolas plásticas sinto, por um lado, mais facilidade em bloquear ativamente e por outro, que os bloqueios ativos não são mais tão efetivos, pois o retorno da bola é mais lento e com um quique mais alto, o que facilita a chegada do adversário. Senti então a necessidade de adaptar meu estilo para ser mais ofensivo e tomar mais riscos nos contra-ataques para conseguir manter o jogo efetivo.

Percebi que receber saques se tornou mais fácil, pois com as bolas plásticas recebem menos giro e também tem o quique é mais alto. Imagino que os jogadores que tem como ponto forte o saque e a 3ª bola tenham observados dificuldades nessa área.

A maior dificuldade que observei com as bolas plásticas foi em impor efeito à bola. A forma que costumava executar os golpes geravam um spin OK, mas com as bolas novas, realmente não estava sendo efetivo nesse quesito. Então mudei a forma de segurar a raquete para ficar com o pulso mais “livre” e estou tendo que jogar mais abaixado para poder usar a força das pernas de maneira mais efetiva, o que causa mais desgaste físico. Além disso não consegui encontrar uma estratégia efetiva para jogar contra two-wing loopers, pois sinto que as bolas de efeito quicam de forma muito diferente.

E vocês precisaram mudar a forma de jogar? Sentiram diferenças para melhor ou pior?
Jogadores que usam pinos longos foram afetando pela diminuição do giro?
Eu sei que no nível profissional a mudança é bem visível, mas gostaria de saber o que mudou para nós, meros mortais.

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O que mais mudou para o meu nível peba foi o gasto com bolinhas. Quebram muito fácil e vieram (1ª geração) muito, mas muito mesmo, ovais. Do ponto de vista do jogo, consegui perceber realmente a diminuição da velocidade média da bola e uma menor capacidade de imprimir efeito em topspins. Muitos colegas disseram que tem de pegar a bola mais atrás (3 do relógio) do que em cima (12 do relógio), então pode ser daí que você está observando que tem de agachar mais e chegar mais com o corpo inteiro na bola.

Assim como o Júlio meu gasto com estas bolas de plástico está sendo bem maior.
Mas isso porque eu escolhi jogar com as bolas 40+ ao invés das D40+ (ambas DHS de 1 estrela). A diferença entre elas é nítida, e infelizmente a balança não pesa para nenhum lado.
As 40+ são mais parecidas com as antigas bolas de celuloide, embora de início eu tenha notado um diâmetro ligeiramente maior, e menos rotação e velocidade. Isso foi comprovado logo de cara, criando mais dificuldades para eu finalizar terceira bolas. Com a bola de celuloide eu finalizava com muito mais frequência e sucesso.
A grande desvantagem desta bola 40+ é a fragilidade, estou quebrando uma a cada 3h de jogo +ou-.
Já a bola D40+ é bem mais resistente, tem o plástico mais grosso, mais pesado e que não sofre arranhões com a mesma facilidade que a 40+. Isso se traduz em maior durabilidade e certamente aguenta mais que um simples treino. Mas o problema é justamente treinar com ela. Que bola horrível! Pega pouco topspin, necessita de muito mais força para sair veloz e quica alto demais a ponto de me fazer errar (furar) tsusuki.
Agora testarei de outra marca e de 3 estrelas, mas ainda com o modelo antigo 40+.

Muito interessante o tópico, Tiago!
Fora o impacto financeiro, tive a mesma impressão dos colegas. A única diferença é que achei as 40+ meio xoxas, tanto em relação às antigas bolinhas de celuloide quanto em relação às novas D40+. Como praticamente só uso DHS há alguns anos, consegui fazer a transição com parâmetros razoavelmente bons. A única ressalva sobre as impressões que eu tive com a 40+, é que como tinha muita bolinha de celuloide estocada, não demorei muito tempo nas 40+ e pulei rapidamente para as D40+. Logo, o fato de eu achar elas xoxas pode ser relacionado a um lote ruim ou a exemplares fabricados no início, quando o material ainda estava em desenvolvimento.
De qualquer forma, acredito que ainda haverá uma evolução no processo de fabricação, que resultará numa diminuição da diferença entre o comportamento da bolinha de celuloide e as de plástico.
Não testei ainda, mas essa última geração de borrachas da ESN é interessante e pode ajudar nessa diminuição da distância. Topsheet mais fino e esponja mais grossa, teoricamente, ajudariam na geração de spin. Se isso funciona na prática e a real extensão dessa melhoria, são outros 500. Isso para o pessoal amador, claro. Os pros tem condições técnicas e físicas para se adaptar a essas mudanças muito mais facilmente que nós (eu), vis mortais… hehehehehehe
Por hora, acredito que o jeito seja aprimorar a técnica e se adaptar da melhor maneira possível.Como está todo mundo nivelado quanto à adaptação ao novo material, quem conseguir fazer os ajustes mais rápido levará alguma vantagem, pelo menos por enquanto…

Bom dia Tiago,

Uma distinção importante que vc fez foi “o que muda para nós mortais”. E as diferenças que vc aponta são de fato bem nítidas, e se mostram a muitos ou quase todos (mesmo em nível técnico mais baixo, ou seja, até a mim hahahahahaha), mas como em tudo no tênis de mesa, há muita pretensão. A verdade é que “nós mortais” temos muita estrada para correr antes de sentir tanta diferença apresentada pelas novas bolas (talvez um pouco mais com as "X"40+). Nesse sentido, penso que as diferenças que vc apresentou são bem adequadas a realidade de um atleta amador, e eu sinto basicamente o mesmo.

Mas concentrando-se diretamente na sua pergunta, a respeito da forma de jogar, geralmente atletas amadores não têm um padrão de jogo ou características tão definidas e (sobretudo) regulares que levem a conflitar com as características das novas bolas de forma a exigir uma mudança. Para vc fazer ideia, na primeira mudança (para as 40+), nem mesmo os profissionais mudaram substancialmente grandes coisas, apenas foram se adaptando ao timing (o que nem leva tanto tempo, nem para nós) e trabalhando formas de compensar a velocidade da bola. Sendo assim, com menos spin (principalmente) e velocidade, para “nós mortais”, vi mudança até mesmo para melhor. E como aparentemente ninguém “pode” dizer isso, deixo aqui esclarecido: a durabilidade e qualidade geométrica das bolas é um outro assunto, e tem sim seus impactos negativos, mas estamos falando de jogo (por incrível que pareça hahahahaha). Eu tive / tenho a oportunidade de treinar com profissionais tanto com as bolas de celuloide como com as bolas de plástico, e posso dizer da minha perspectiva de mortal sem talento que certamente com a bola de celuloide é MUITO mais difícil. Mas só vamos sentir tanta diferença a ponto de ter que mudar o jogo quando conseguirmos colocar tanto efeito e velocidade como eles, e talvez nem assim.

Em relação ao pino longo, tive uma experiência recente que me permitiu finalmente ter mais do que uma análise a respeito. Mesmo depois de tanto tempo de plastic ball por aí, apenas há pouco mais de um mês atrás tive a oportunidade de jogar contra um defensivo com estas novas bolas. Por uma série de circunstâncias, nos últimos 8 a 9 meses, tenho treinado pouquíssimo (e mal, inclusive), e somado ao fato de eu nunca ter tido um grande desempenho contra defensivos, por falta de oportunidade (poucos defensivos por aqui), talento, etc., esperava mal conseguir jogar. Para piorar, o adversário era um bom defensivo, bastante regular, o que significa que o que fosse muito provavelmente voltaria, exigindo regularidade de mim tb. Entrei para jogar com o objetivo de não passar vergonha hahahhaahahah. Mas ao longo do jogo, muitas bolas que eu não imaginava conseguir passar de topspin entraram, até algumas que golpeava certo de que iria errar. Não venci a partida, mas perto do que eu esperava, o 3X2 (o que não conta pelo placar em si, mas pela capacidade de jogar em “igualdade”) ficou de ótimo tamanho. O que eu quero dizer com isso acima de tudo é que, neste caso, de fato seria muito mais difícil com a bola de celuloide, afinal eu definitivamente não estava numa exibição além do meu costumeiro “mediano/medíocre”. Assim, deu para perceber que, mesmo em nível técnico mais baixo, dá para sentir esta diferença no jogo contra pino. Isso não significa por si só que as características do pino longo não surtam mais nenhum efeito no jogo, e que isso fique bem claro. Mas é nítido que, para os fins que se tinham, não haverá a mesma facilidade em obtê-los.

Já com a última geração das bolas de plástico, as características da 40+ ficaram ainda mais acentuadas: menos velocidade e menos efeito. Neste sentido, com os limites aumentando, talvez mais gente se veja afetada de forma a procurar mudar formas de jogo, mas como eu disse logo no começo, ainda existe muita pretensão. Em nível técnico elevado / profissional, muita gente que tem jogo bastante baseado em spin ainda está se adaptando, e eu mesmo conheço alguns, mas nós precisamos de muito para chegar lá ainda. Então resumindo, e mais uma vez, desconsiderando o aspecto geometria e durabilidade e pensando apenas no jogo em si (geralmente o único que não se leva em conta), acredito que “nós mortais” ganhamos mais do que perdemos. Procurando fazer bem e regularmente o que já se faz, bola nenhuma vai deter ninguém hahahahahahah.

Abraços!!!

Realmente o preço está absurdo, nunca tinha comprado bolas no exterior, mas agora mesmo com o risco de taxação, está valendo bem mais do que pegar R$ 15,00 reais numa Nittaku, por exemplo.
Todavia, como o Alcir, também achei uma mudança boa, já que, pelo menos pro meu estilo, esse centésimo de segundo a mais que a redução de velocidade e de spin proporcionam, me permite contra-atacar com bem mais qualidade que antes. Ainda não consigo trocar drives com tanto consistência, mas isso deve muito a falta de treino nessa área, pois defino objetivos e vou avançado na dificuldade dos treinos pouco a pouco, então ainda não venho treinando muito o jogo a média e longa distância.
No meu caso, a diferença de spin da bola ressaltou um aspecto que já era deficiente no meu jogo, mas que era de certa forma compensado, então agora estou trabalhando para melhorar a técnica e isso acabou meu ajudando a ler melhor o giro das jogadas dos adversário. Usar borrachas um pouco mais duras também me ajudou. Contra aqueles jogadores mais “malandros”, que usam muitas bolas sem giro ou entortadas baseadas em técnicas “pouco ortodoxas”, haha, achei que ficou mais fácil jogar também. (me refiro aos jogadores que sabem como executar os movimentos de forma correta, mas que usam a “malandragem” como recurso, muitas vezes de forma predominante no jogo, e que por isso dão muita dor de cabeça, principalmente pra quem não consegue ter um bom ritmo de treino)

Entrevista com Jan Ove Waldner

Qual sua opinião sobre a bola de 40 mm: Eu acho que isso levou a menos torneio e menos tênis de mesa divertido. Mais jogadores jogam com menos imaginação e mais como robôs nos dias de hoje.

[quote=“xleo97” post=109027]Entrevista com Jan Ove Waldner

Qual sua opinião sobre a bola de 40 mm: Eu acho que isso levou a menos torneio e menos tênis de mesa divertido. Mais jogadores jogam com menos imaginação e mais como robôs nos dias de hoje.[/quote]
Só para constar, nessa entrevista o Waldner ainda falava da mudança da bola de 38mm para a de 40mm, há mais de 15 anos. Se vc quis dizer que na sua opinião vale o mesmo (e até hoje, no caso), entendo, mas é necessário esclarecer que o Waldner não estava falando da mesma coisa.

Abraços!!!

Revisitando o tópico 4 anos depois e já em outra geração das bolinhas plásticas, dá para dizer que definitivamente o problema da durabilidade foi resolvido. Há bolinhas que ficam totalmente lisas ou até entortam antes de quebrar.
A questão da dificuldade em gerar efeito e, em consequência, a necessidade de um jogo mais rápido parece, por outro lado, ter se intensificado, muito por conta dos materiais das bolinhas atuais, mais resistentes mas também menos responsivos.
Em consequência, tenho a nítida impressão que atualmente as bolinhas perdem grande parte do efeito apenas aos encostar na mesa, o que torna muito do jogo “morto”.

eu comecei a jogar ano passado nessa geração dita por vc, mas fico curioso, o jogo para “nós mero mortais” era muito diferente com a bola de celuloide ou mesmo a plastica apenas 40? no profissional vejo que mudou bastante, da pra ver o jogo mais morto. mas e no ambito amador, se sentiu muita diferença?

Pra que aprendeu com a bola de celuloide a diferença foi bem grande, principalmente para os estilos diferentes e mesmo para caneteiros. Eu mesmo comecei a achar muito mais fácil jogar contra pinos e jogadores mais “malandros”, ao mesmo tempo que ficou muito mais difícil jogar contra aqueles que são atacantes natos.
O jogo, na prática, ficou muito mais físico, de certa forma mais técnico (no sentido de ser necessário um movimento mais correto) mas também menos criativo, principalmente agora com essas bolinhas “pesadas”.
Não acho que tenha piorado como alguns dizem, mas realmente ficou diferente.

Esta mudança de bola no TM equivale a mudança que fizeram nas quadras de tênis: tudo para diminuir a velocidade do jogo e priorizar os rallies.
Realmente agora há que se ter um bom físico para golpear continuamente a bola, pois ela volta muito fácil. Quando eu executo meus melhores drives, com a máxima velocidade que consigo e a bola volta sempre, isso me leva a adotar novas táticas, pois imprimindo tanto esforço o esgotamento vem bem rápido, o que diminui a qualidade dos golpes.
Então eu procuro trocar bolas de topspin sem gerar muita velocidade e focando na consistência de acertar sempre.

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Boa noite,

Não sei o que vcs descrevem com jogo “morto”, mas definitivamente não acredito que seja o caso. E nem comparo com tantos anos atrás. O jogo está cada vez mais intenso, uma vez que a menor incidência de efeito torna o jogo veloz um pouco menos arriscado e todo mundo têm “saído à caça”. Inclusive jogadores profissionais que passaram por estas transições relatam que precisaram ser mais agressivos que antes para continuar sendo competitivos.

Em âmbito amador, quem não era regular com bola de celulóide, não seria milagrosamente com bola de plástico. A questão é que pela menor qualidade técnica, nossas margens são muito mais grossas, com muitos mais erros não forçados do que qualquer outra causa. Porém, a menor incidência de efeito é algo que demanda um pouco menos de habilidade para lidar com ele, portanto, dentro de proporções adequadas, bolas que causavam falhas antes agora causam menos. Isso é bom por um lado, mas por outro, quem desenvolve seu jogo hoje dá cada vez menos importância ao efeito, que nem por isso se tornou irrelevante. Aliás, muito pelo contrário: ainda é essencial, e faz diferença fundamental sobretudo no nosso nível.

Abraços!!!

Sei que esse tópico é bem antigo, mas cheguei no fórum por meio dele. Fiquei muitos anos sem jogar tênis de mesa e comprei um kit recentemente, mas achei estranha uma bola que comprei, diferente. Pensei que fosse de mal qualidade. Depois, vi que teve essas mudanças no material. Hoje, tenho visto diversas especificações (C40+, G40+, D40+, DJ40+) que me deixaram em dúvida do que se tratam. Como eu sei que tem gente aqui que já está por dentro das mudanças, alguém sabe me dizer o que tornam essas especificações diferentes uma da outra? E qual é a melhor bola da atualidade (marca e modelo) para partidas oficiais?

Estas letras antes do 40+ é somente uma identificação de cada fabricante. Por exemplo, o G40+ é da Butterfly, o D40+ é da DHS, e assim por diante.
Sobre a melhor bola eu não posso opinar pois não testei todas, longe disso.
O que eu posso dizer é que eu uso somente a D40+ de 3 estrelas. Ela é bem durável e satisfatória na mesa, acho um bom custo-benefício.
Já nas partidas oficiais a bola a ser usada depende de cada organização. Nos campeonatos mais importantes atualmente (eventos WTT) é utilizada a DHS DJ40+ com carimbo WTT.

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